É Preciso Estar na Experiência
- Cláudia Goulart Alves de Mello
- 5 de jan.
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de jan.
Sinto que somos (em essência) imaturos. Minhas principais dinâmicas emocionais ainda são determinadas pela infância e por aprendizados infantis. Ao menor sinal de perigo, de medo, eu instintivamente ergo as mãos e busco uma pessoa para me ajudar... Como uma criança pequena, de braços estendidos (olhando em volta), esperando que alguém surja e me carregue para fora da dor.
Tenho observado que “esse sair da dor” tem trilhas, e ocorre quando tentamos nos anestesiar, distrair ou agir para aliviar a pressão, atormentando outras pessoas com nossos problemas. E essas são escolhas ruins.
As experiências (na vida) surgem para nos fazer crescer, aprender, compreender, evoluir e ampliar nossa consciência. Em geral, é preciso aumentar a pressão, para dar certo. Essa regulagem é automática, ocorre em ondas, nos faz andar.
Se não permanecermos presentes naquilo que estamos experienciando, não acontece o aprendizado. Quando nos “evadimos do recinto”, tudo é bagunçado, os propósitos ficam confusos, a dor aumenta e a situação não passa, ficamos presos numa bolha de tempo.
Surge um problema (um incômodo qualquer), que me deixa desconfortável, que causa dor e sofrimento. Resisto e tento fugir – essa é minha reação instintiva. Logo depois da resistência (ou como parte dela), procuro alguém para “contar minha desgraça”, angariar simpatia e reforçar minha resistência.
Ao fazer isso, alivio a pressão (por alguns momentos) e tenho a impressão de receber “reforço da cavalaria”, mas é mera ilusão.
Veja bem, nada contra acolhimento, amparo e solidariedade. Todos precisamos e merecemos isso. Eu me refiro às coisas esdrúxulas e apressadas que fazermos para sair de qualquer desconforto.
Para mim, permanecer na experiência tem sido uma NOVA EXPERIÊNCIA. Nova, possível e surpreendente.
Quando aguento a pressão (sem resistir) e deixo o cenário evoluir, seguindo na escalada dos eventos, parece que os propósitos se revelam, que tudo (em algum momento) fica claro, como mágica.
De repente, percebi que os problemas (as situações difíceis da vida) são questões que me pertencem, que surgem para mim, porque eu preciso aprender a superá-las. Uma grande parte, vejo que são consequências diretas de como tenho vivido, eu mesma causei. Outro tanto vem porque eu preciso aprender sobre os assuntos de que tratam (também causei, seja por ação ou necessidade).
Ao tentar fugir (sim, porque a fuga nunca se concretiza de fato, ela apenas retarda os desfechos), eu desfaço as situações que minha consciência se esforçou para estabelecer como caminhos de crescimento.
Surge uma situação chata (difícil) e, para mim, o processo teria que ser este:
- Não resistir, aceitar (para poder avançar, quando for possível);
- Sem culpados, mas com atenção às responsabilidades;
- Ter paciência, para que os propósitos se revelem;
- Não jogar a situação em cima de outra pessoa (para ver se a dor melhora);
- Esperar para pedir ajuda (e evitar fazê-lo ao máximo);
- Permanecer aberto às verdades que surgirem sobre si;
- Acalmar-se;
- Conversar a respeito com Deus, consigo, com seu “Eu Superior” ou consciência mais profunda;
- Observar e identificar o que pode ser feito;
- Agir com calma;
- Buscar pontos de sustentação para manter suas forças (sol, respiração, alimentação, água, meditação, música, pequenas atividades, criação);
- Aguardar as transformações do cenário (nada permanece como está, tudo muda o tempo todo, novos elementos e desfechos surgirão);
- Refletir sobre os aprendizados e informações que a situação trouxe para sua vida;
- Estabelecer estratégias para transformar o que precisa ser transformado.
Tudo isso não existia em minha vida, de modo consciente e organizado. Alguma coisa eu já fazia (intuitivamente), como uma reação automática aos processos. Somente agora (há pouco tempo), comecei a agir com mais consciência e presença. É possível.
“Experienciar a experiência”, e ponto. Parece tão bobo e óbvio, mas é tudo o que não fazemos.
Fico me imaginando, como se estivesse brincando num joguinho eletrônico. As fases mudam e se tornam mais difíceis. Daí, ao invés de jogar e tentar avançar, eu paro e vou contar para alguém que "está complicado". Deixo o joguinho de lado, aberto no celular, enquanto me distraio fazendo outras coisas, reclamando de “como é difícil e eu estou tão cansada”, esperando que tudo se resolva, sem a minha participação. Acho que não agimos assim, não é mesmo? Mas fazemos isso na vida, o tempo todo.
A cada passo, minha criança está ao lado. Em grande parte das vezes, assustada, com os bracinhos estendidos para o alto, buscando ajuda (com medo). Eu preciso acalmá-la, segurá-la no colo e contar histórias. Este é o meu papel (não a função dos outros). A criança é minha, os problemas são meus, chega de debilidade.
Ao me manter presente na experiência, tenho percebido que é muito prazeroso descobrir novos limites e não subestimar minha capacidade de superação. Muitas novidades pela frente…
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