Tempo, tempo... Tempo, tempo!
- Cláudia Goulart Alves de Mello
- 11 de dez. de 2024
- 7 min de leitura
Atualizado: 30 de jan.
Acho que todo mundo já se perguntou ou refletiu sobre o tempo. Afinal, o que é esse “Deus tão severo”? Dádiva, maldição ou ambos?
Objeto dos nossos desejos, ele é tanto o que mais queremos ter, quanto o que mais desejamos ultrapassar. Tentamos medi-lo com um relógio, que nos avisa o passar do momento, de momento a momento, de segundo a segundo (milissegundos, microssegundos... nanossegundos). Mas, se resume a isso? Ele é apenas uma testemunha imparcial do nosso viver?
Estamos num universo tridimensional (de alturas, larguras e profundidades) que se move no tempo. São três dimensões que se deslocam (juntas) nesta quarta dimensão, e foi preciso a genialidade de Einstein para começarmos a compreendê-lo assim.
O tempo tem propriedades: ele se expande, contrai e modifica, quando o espaço é alterado pela força gravitacional. Para alguém próximo a um buraco negro, onde a gravidade é massiva, o tempo passa mais devagar (em relação a quem estiver distante). Já sabemos disso.
Se pensarmos em termos de viagens espaciais (à velocidade da luz), quanto mais rápido nos movermos, mais lento será o tempo. Poucos anos no espaço, e todos aqui na Terra já teriam morrido...
Essas verdades foram comprovadas pela ciência, em laboratório. Não são apenas teorias, já foram verificadas. Partículas aceleradas em colisores “vivem” mais do que as que permanecem em repouso. E, se elas demoram mais para se extinguir, significa que o tempo para elas passou mais devagar, por causa da velocidade em que estavam. Portanto, tudo o que vimos no filme Interestelar, por exemplo, está fundamentado em leis da física e dinâmicas da astrofísica.
Nenhuma teoria científica foi (e continua sendo) tão amplamente comprovada pela ciência quanto a Relatividade Geral de Einstein, que trata da gravidade e também do tempo. Aprendemos muito, mas (mesmo assim) sabemos pouco.
Estima-se que o universo tenha algo em torno de 23 trilhões de anos-luz de diâmetro, ou seja, ele seria 250 vezes maior do que a parte que conseguimos observar com nossos telescópios espaciais.
A matéria que conhecemos (que podemos ver e observar) corresponde a 4 ou 5% do que existe. Do restante, cerca de 70% são energia escura e os 30% restantes são matéria escura. Ou seja, vemos apenas um pedacinho do universo, os 96% restantes são desconhecidos para nós. Nos 4 ou 5% que conhecemos, estão toda a matéria visível e toda a matéria subatômica, sendo que 87% desta pequena parcela são gases.
Estar no escuro não é apenas uma metáfora, é a nossa realidade (e nós aqui, "nos achando", né? Mas esses são os fatos).
Não sabemos coisa alguma (ou quase nada) sobre energia escura e matéria escura, que têm esses nomes parecidos porque astrofísicos não são muito bons em nomear as coisas, são troços bem diferentes e os nomes apenas nos confundem (aprendi isso com meu professor de Astrofísica, da Universidade Federal de Santa Catarina).
O fato é que contamos principalmente com observações limitadas e hipóteses.
A energia escura, no que tange aos grandes conglomerados estelares e de galáxias, vence a força da gravidade, por isso o universo está se expandindo. Ela é um mistério.
Já a matéria escura não emite, reflete ou absorve luz, e nós não a enxergamos, apesar dela constituir quase 85% da matéria total do universo. Sabemos de sua existência por causa dos seus efeitos gravitacionais sobre a matéria visível (mais mistério ainda).
É neste cenário nebuloso, onde esses agentes desconhecidos atuam, que o tempo desenvolve suas dinâmicas e propriedades, sendo mais uma parte dessa enorme equação que ainda não solucionamos. Não se trata apenas daquele tic-tac familiar (que, aliás, é familiar para mim, que tenho idade para isso... rsrsrs).
Em nossas vidas, temos diferentes percepções do tempo. Ele passa rápido, quando nos sentimos bem ou estamos distraídos, mas é lento, quando a experiência é difícil. Esse seria apenas o efeito da nossa consciência, mais ou menos desperta e focada, conforme a vivência? Não sei.
Na esfera das memórias e da imaginação, ele nos leva a cenários difusos, confusos, nublados, e também a locais nítidos e claros como o agora, tudo na velocidade do pensamento (ou na velocidade do ser, que eu imagino superior à da luz).
E eu me pergunto, se tudo isso faz parte das nossas percepções ou se somos afetados por suas propriedades desconhecidas?
O tempo traz, leva, ensina, muda, mostra... O tempo cura. O tempo passa! (ou somos nós que fazemos tudo isso, enquanto ele flui?).
Essa “presença” faz parte da nossa construção como seres humanos. Ele ironicamente é, sem nunca estar, uma vez que se move (e nos move) sem parar. Tempo e movimento (portanto, espaço) têm seus mistérios conectados às nossas transformações.
Hoje, tive uma noite longa. As horas do relógio não foram tantas (4 ou 5), mas a sensação foi de uma noite sem fim. Sono agitado, sonhos confusos. Acordei cansada e dolorida.
De manhã, fui para o jardim, e a grama estava mais alta. Havia duas rosas novas abertas e outras flores (que já estavam desabrochando) tinham crescido bastante. Tenho certeza disso, porque me lembrava de como tudo estava, na tarde anterior. A noite havia sido longa no jardim também.
Desde que minha filha morreu, minha percepção do tempo mudou. Morando nesta casa nova, então, tudo ficou mais lento. É como seu eu tivesse mais tempo (aqui) do que o que se passa no resto do mundo, para curar e compreender.
O tempo dentro do trauma é diferente. Vivemos numa bolha que nos mantém no momento zero, no instante traumático. Isso é real, funciona assim, mas também existem outras questões. Comigo, ele deixou de ser linear, sinto que continua passando de momento a momento, mas agora vai de um instante para outro, onde claramente sei mais do que sabia (no ponto de origem). O fluxo segue numa direção, mas não só nela, ele dá voltas, sobe e desce, vai e vem, trazendo mais e mais informações.
O trauma ocorreu no passado, mas continua acontecendo no presente. Tudo foi e é (lá, aqui e agora). As portas do passado distante também ficam abertas e ele passa a invadir os momentos presentes (vívido e inesperado).
Estou torcendo para que esses não sejam sinais de demência, mas pressinto que existe algo por trás do véu. Mesmo que estejamos separados de pessoas e situações nesta parte do tempo, já estivemos ligados em outra. Se a dinâmica não for apenas linear, a conexão permanece e o fluir dessa conexão também.
O tempo, que passa mais devagar para mim (nesta casa de cura), passa mais devagar também para minhas plantas. Elas têm mais tempo para crescer, e todos notam e se admiram, quando chegam aqui, vindos de um mundo mais rápido.
Tenho um ipê amarelo, que é uma árvore de crescimento lento, que não só prosperou, mas floriu, antes do “tempo previsto pelo mundo”. Por outro lado, em alguns momentos, o "slow" cessa, e passarinhos, que mal terminaram de construir ou ocupar seus ninhos, já surgem com seus filhotes tentando voar! Os ritmos se alternam. Há humores.

Meu Ipê Amarelo

Imagino que a função desse “mágico delay” seja viabilizar o trabalho. Há tanto para ser feito, que necessito de mais tempo do que há no mundo externo. Talvez, por isso, ele se passe mais lento, para que eu possa trabalhar, elaborar mais e curar melhor. É como se eu vivesse "encantada", na terra das fadas.
Na minha infância, um dos meus programas favoritos de televisão era o “Túnel do Tempo”. Como eu queria ser uma viajante! E, na verdade, todos somos. É o que fazemos a bordo dessa nave-mãe chamada Terra: viajamos (juntos) através do tempo.
Habitando nela, giramos no espaço a uma velocidade incrível (mais de mil e seiscentos quilômetros por hora), e nos movemos mais rápido ainda em torno do Sol (a mais de cento e sete mil quilômetros horários), além de darmos a volta na galáxia (junto com o sistema solar) e de nos movimentarmos com a própria Via Láctea pelo universo.
A nossa sensação, entretanto, é a de estarmos parados (imóveis, aonde a nossa consciência está neste momento), existindo num ponto determinado do espaço e do tempo. Não percebemos o movimento, não nos sentimos mover. Embora, estejamos.
Pelo princípio da entropia, tudo vai de uma situação mais organizada para outra menos organizada (com o passar do tempo). Um ovo inteiro se transforma num ovo quebrado (e não o contrário), a comida boa se deteriora, as células do nosso organismo se desorganizam e nós morremos. A morte é resultado da “vitória” da entropia.
E este é o princípio que impediria a viagem no tempo, porque teoricamente não se poderia voltar de um lugar “menos organizado” (que seria o presente) para outro “mais organizado” (que seria o passado).
Somos (hoje) o resultado do ontem, e o resultado não retorna à sua causa. Esta seria uma limitação da física, mas a nossa percepção da realidade dá sinais de que as coisas podem ser diferentes. Só não sabemos como funciona.
Os fenômenos que, atualmente, começam a ser observados no horizonte de eventos de um buraco negro (que envolvem dinâmicas do tempo, da gravidade e da estrutura e propagação de informações) devem trazer descobertas revolucionários para a nossa compreensão do universo e do seu funcionamento. Portanto, tudo vai mudar, a qualquer momento.
Estamos nos movendo no tempo e, durante esse mover, nós experienciamos, aprendemos e ampliamos nossas consciências. É a dinâmica da evolução: movimento, através do tempo. Ter consciência disso, pode impactar o processo. Podemos até crescer melhor, mais atentos, em esferas mais profundas.
Há muitos anos, o sociólogo Betinho gritou para a nossa sociedade que “quem tem fome, tem pressa”! E nós temos que conquistar esse olhar sobre o mundo e sobre o outro, que é o olhar do tempo. Quem tem fome tem pressa, quem tem medo e dor também. Quem está sofrendo precisa ser visto e socorrido, no tempo do seu sofrimento. Nada de esperas!
É hora de parar de abstrair e de usar essas abstrações para se afastar da realidade. O tempo que se move requer ação, é uma dinâmica a ser aproveitada e jamais desperdiçada. Não podemos perdê-lo, sem refletir ou agir (sem crescer). É assim que tudo se transforma.
O tempo também é escolha e responsabilidade. A vida é um projeto, com prazo de conclusão. No fim, temos que prestar contas do que fizemos com o que nos foi dado. Usamos, otimizamos, ignoramos, desperdiçamos? Quais foram os resultados?
Mesmo que ainda não consigamos avaliar os estragos ou saldos, já vamos sofrendo as consequências do mal uso, muito antes do final. Quanta coisa nos falta hoje, porque não utilizamos o tempo que havia, para criar soluções que nos alcançassem, em tempo?
Sinto que há muito para se compreender e observar (em diversas esferas), afinal, estamos falando de tudo: do nascer, do viver, do morrer e do prosseguir ou se extinguir, no tempo.
Enfim, gosto quando estou atenta e o percebo, movendo-se em torno de mim (mais lento, mais rápido, com sussurros ou barulhos estrondosos), funcionando com suas propriedades fascinantes e desconhecidas. É uma questão intrigante essa do tempo (que nos devora). Assunto para mais de metro... (risos). Quem sabe não voltamos a falar dele, uma outra hora?
Perf