O Amor Está em Nós
- Cláudia Goulart Alves de Mello
- 11 de dez. de 2024
- 9 min de leitura
Desde que me lembro, eu adoro animais.
Ao longo da vida (inúmeras vezes), fui confrontada por causa disso. Havia sempre alguém dizendo, de uma forma ou de outra, que “ok, mas eles não são gente”!
Não fazia a menor diferença, eu amava e pronto. Embora (no fundo) permanecesse esse incômodo (dissonante) no cenário, o amor era imperativo, e por isso levei anos para começar a refletir a respeito (e outros tantos para elaborar).
Amor é amor. O amor que eu sinto existe em mim e o objeto dele não importa. Quando amo, estou exercendo o meu sentir, e não a emoção do outro. O “meu amado” não precisa de pré-requisitos, especificações, qualidades ou características tais, para que eu o ame. É simples assim. Eu amo por amar e, como disse Fernando Pessoa, "não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar".
Amo bichos, é um sentimento intenso e profundo, tão real quanto o que sinto pela minha filha, marido, família ou amigos. Não há diferença, é o mesmo amor que me habita. Eles sempre me emocionaram muito, talvez por estarem tão próximos à Fonte, assim como estão os bebês, irradiando essa força pura, que (com o tempo) sentimos cada vez mais raramente em nós.
Esses companheiros de caminho interagem conosco, como tudo mais que existe no mundo, refletindo neles o que há em nós, para o bem e para o mal.
Quando um pet chega em nossas vidas, ele – ao entrar no nosso campo energético – passa a dividir conosco até as dores e desequilíbrios sistêmicos que herdamos das gerações passadas. Chegam para nos mostrar onde curar, aonde estão os problemas e em quais locais a energia não flui. São mestres em reparações.
Na morte, quando partem, deixam uma dor profunda (que tem a mesma natureza de qualquer sofrimento autêntico), difícil de suportar, que nunca é menor porque tem origem na perda de um animal (e não de um humano). Por isso, eu nunca me envergonho das minhas lágrimas nem do meu luto.
Li que a mudança deles entre planos (físico e espiritual) é muito tranquila e natural, que eles têm facilidade em transitar. Dizem até que existe um local do “outro lado”, onde são recebidos: a ponte do arco-íris! Não sei se é verdade, mas a ideia é ótima e deixa o coração quentinho...
Há tantos relatos, o próprio Chico Xavier contava de uma cachorrinha sua, a Baleia, que morreu e retornou mais de uma vez para sua vida, além outros bichinhos (que iam e vinham). Há uma passagem envolvendo a visão de um cachorro, no mundo espiritual, que irradiava uma luz intensa, e isso se devia à energia de amor emanada pelo dono, que jamais o esquecera.
Nove entre dez pessoas no planeta acreditam em Deus ou em alguma forma de existência espiritual. Na visão da Doutrina Espírita, os animais são almas em processo evolutivo (como nós), que seguem experienciando a vida na matéria, para expandir sua consciência.
Estão livres de qualquer carma (uma vez que são pura infância). Sofrem, com o objetivo de começar a sensibilizar o espírito para experiências mais profundas, isso faz parte do crescimento e da complexidade que se aproxima. Mas, terminada a tarefa, a dor cessa, eles se refazem e muitas vezes retornam.
Para os católicos, são “criaturas de Deus”, que precisam ser amadas e respeitadas. A visão de que os animais não teriam alma, não possuindo portanto o mesmo destino da humanidade, já se enfraqueceu e está dando lugar à proposta filosófica de Francisco de Assis, que os vê como irmãos.
No Judaísmo, existe um valor básico na relação entre seres humanos e animais, chamado de Tsáar baalei haim, que designa “o sofrimento das criaturas vivas”. Junto ao Mitsvá, o mandamento proíbe causar dor e é considerado uma forma milenar de ação ecológica. Durante o descanso do Shabat, assim como os seres humanos, os animais também não trabalham. Eles observam até uma ética para o abate daqueles criados para corte (Cashrut), que objetiva reduzir o sofrimento.
O islamismo determina que os animais sejam tratados com misericórdia, já que possuem alma e que Deus devolverá suas vidas, no Juízo Final. Muçulmanos acreditam que, ao morrer, o corpo do animal é entregue à terra, mas seu espírito retorna a Deus.
No Budismo, que existe há cerca de 2.600 anos, eles estão presentes em histórias, contos e parábolas, mas não existe conceito de alma, nem para pessoas nem para animais. Há apenas um “co-surgir” de tudo, interdependente e simultâneo, onde seríamos um.
Em religiões de matriz africana, como a Umbanda, o sacrifício é desencorajado, eles os enxergam como seres possuidores de alma. Já no Candomblé, existe a prática, que está relacionada à comunhão com o Divino. Animais de várias espécies são mortos pelos Axoguns (ou “Mãos-de-Faca”), dentro dos preceitos sagrados para o ritual. Tudo é visto como uma troca, mas os Orixás não aceitam sacrifícios desnecessários ou realizados sem critérios.
Desde os primórdios da civilização humana, animais são considerados sagrados. Na Índia, Japão, China e em diversas culturas antigas, eles eram e são associados a divindades, fazendo parte de sistemas simbólicos de valores universais. Exercem o papel de verdadeiros pilares na arquitetura ética de muitos povos.
A ciência afirma que cães, gatos, cavalos e macacos têm, de fato, uma constituição neural especial, com inteligência marcante e muito relacionada à longa trajetória de convivência com humanos (durante a qual, teriam desenvolvido habilidades sociais). Por outro lado, na natureza, espécies selvagens (que não sofreram influência humana) também apresentam dinâmicas complexas em seus grupos: comportamentos solidários de auxílio e proteção, educação dos mais novos e até processos de luto. Há seres que intrigam pesquisadores, por suas capacidades e dinâmicas complexas, como é o caso dos corvos, polvos, golfinhos, chipanzés e papagaios, além de diversos outros.
Tenho a impressão de que existe consciência em tudo, ocorrendo apenas em diferentes níveis (e de formas peculiares), e é provável que nem possamos afirmar (com certeza absoluta) quem é mais ou menos consciente. Na verdade, até o nosso entendimento de consciência é precário.
Um pássaro, por exemplo, é capaz de compreender energias das quais não tomamos consciência espontaneamente, como a eletromagnética (eles também pressentem erupções vulcânicas e terremotos). Aliás, nós não ouvimos as frequências que grande parte dos animais escuta, não enxergamos as faixas de luz que eles são capazes de ver nem extraímos tantas informações dos aromas. Isso sem falar das incríveis "inteligências coletivas", como é o caso de formigas e abelhas, com seus comportamentos orquestrados e organizados.
Acho que a coisa é cada um no seu quadrado, com suas habilidades e especificidades, mas todos interconectados. As diferenças não nos fazem superiores ou inferiores uns aos outros, mas parceiros, colaboradores!
Nossa compreensão de mundo precisa se tornar mais holística. Hoje, já existem terapeutas que utilizam Constelação Familiar para tratar pets e seus sistemas. Achei um veterinário, no Instagram, que canaliza mensagens de animais desencarnados. É um médium de bichos! Muito interessante, conforta o coração dos que perderam um amigo peludo.
Também conheci uma veterinária que aplica Reiki em animais. O impressionante é que, enquanto faz a prática e conclui o diagnóstico, ela também capta a situação energética que originou a doença, sempre vinculada ao dono. O diagnóstico, portanto, é duplo – para o animal e seus pais humanos.
Ela tratou uma jiboia, que estava internada com uma série de problemas e sem se alimentar. Após diagnosticá-la, descobriu que o dono se encontrava em situação semelhante, com o mesmo quadro clínico da cobra, hospitalizado numa UTI. Há uma infinidade de relatos impressionantes.
Tenho uma cachorrinha, chamada Benedita, que já fez quatro cirurgias para retirar cálculos na bexiga, basicamente compostos estruvita. A última retirada foi há três semanas, o material foi enviado para um laboratório em Minnesota, nos Estados Unidos, para ver se descobrimos algo (a mais) que nos oriente uma estratégia de cura.

O curioso é que ela faz tratamento permanente, tem uma alimentação especial, usa suplementos e medicamentos, tem uma ingesta de água reforçada (todos os cuidados são diários) e, ainda assim, o quadro se repete.
No mês passado, o meu gatinho, Malbec, também foi internado cheio de cálculos, que estavam obstruindo a uretra. Ele escapou da cirurgia, conseguiram desobstruir com sonda e várias lavagens, ficou internado três dias, mas agora está bem.

O problema parece endêmico, aqui em casa, porque eu também estou com cálculos vesicais, há vários meses.
Recentemente, soube que (do ponto de vista energético) bastava observar a qual pessoa da família o animal estava vinculado (essa é uma escolha deles, e não nossa - são eles que decidem “a quem pertencer”). Na pessoa de vínculo, poderia haver uma desistência da vida, uma falta de vontade de viver, e isso estaria causando os cálculos de bexiga nos pets conectados.
Se é mesmo assim, eu não sei. Mas os dois estão vinculados a mim e, desde que minha filha morreu, eu não tenho vontade de viver. É fato, e quem me deu as informações não sabia disso.
Foi um baque pensar sobre até onde minha responsabilidade com o bem-estar deles se estende. Eu poderia mesmo estar causando isso? Detesto a ideia, mas não posso desconsidera-la.
Eu já tinha ouvido falar sobre algumas correlações simbólicas entre problemas de saúde e quadros emocionais patológicos, como a tristeza somatizada nos pulmões, o medo nos rins, a raiva no fígado, o rancor nas vias biliares ou a ansiedade no estômago. Mas isso me pegou despreparada.
Existem tantos mistérios. Nós interagimos nesse universo imenso, trocando energia permanentemente: com o meio ambiente, animais, outros seres humanos; quando nos alimentamos, respiramos, recebemos e damos informações – tudo é troca, tudo busca algum tipo de homeostase (de equilíbrio) e nós não conhecemos o alcance pleno ou a complexidade real dessas trocas. Então, por que, não? Vai que é assim...
Tenho verdadeiro horror às crueldades cometidas contra animais. Acho que uma refeição não vale uma vida e acredito que a ética do bem-estar animal deve ser observada, até em situações de mercado. Também discordo do comércio e, por isso, nós resgatamos ao invés de comprar. Há muitos abandonados, em situação de maus-tratos, que precisam de lar e acolhimento. E, graças a Deus, existem protetores altruístas, compassivos e dedicados. Conheço vários, mas vou mencionar apenas uma, em São Paulo, que fez da sua missão acolher cães idosos, que nunca tiveram um lar.
Ela cuida de bichinhos sofridos, que já chegam com as fragilidades da idade e muitas doenças crônicas. É um sacrifício imenso, porque quem ama sofre, ao ver o sofrimento do ser amado. Dói cuidar dos debilitados e, lá, eles estão sempre alimentados, medicados, bem cuidados, com suas fraudas limpas e camas impecáveis. Amados. A maioria encontra, ali, o primeiro e único lar de suas vidas. É admirável!
Amor só é amor, quando cuidamos. Tem gente por aí dizendo que adora, mas não cuida, isso não é amor. Amar é estar atendo ao bem estar do outro, requer tempo, trabalho, dedicação, sacrifícios e custa caro. Abrimos mão de muita coisa, para ter os nossos: enfrentamos medos, preocupações e ansiedades, mas (quando se ama) tudo isso vale a pena. Compreensão e responsabilidade são vitais, um pet é compromisso para 10, 20 anos. Não se pode mudar de ideia (no meio do caminho) e abandonar o amor.
Aliás, quando se trata desse amor, nós o expandimos para todos que o compartilham. Temos um verdadeiro "radar" para pessoas que também gostam, há uma conexão imediata de almas. Amamos essas criaturinhas, amamos quem as ama e quem cuida delas. Somos apaixonados por veterinários (e muito gratos)!
Mas, como eu dizia, os animais refletem o que há em nós, para o bem e para o mal. Pessoas que os machucam externam, em seus atos, o que há de mais escuro dentro delas, e eu sempre lutei contra isso, que compreendia existir apenas fora de mim. No entanto (se a história dos cálculos for real), eu também estou refletindo minhas sombras nos bichinhos que tanto amo (intencionalmente ou não). É irônico, e também é responsabilidade minha.
Estamos num mesmo campo energético, eu, Malbec e Benedita. Se a minha vitalidade está diminuída por uma desistência interna e essa coisa deletéria se materializa em cálculos nos dois, o que eu preciso fazer para dissolvê-los? Eles generosamente estão me mostrando uma disfunção no sistema, que precisa de equilíbrio. Como obtenho essa cura? Não sei, mas estou investigando. Preciso resolver isso.
Aliás, essa "doação energética" (deles para nós humanos) já era observada em costumes antigos, como ter gatos em casa para proteção, porque eles captariam para si qualquer energia intrusa, que pudesse prejudicar os membros da família. Talvez nada disso seja mera superstição...
O caminho mais fácil é desconsiderar qualquer hipótese “fora da casinha”, mas – por alguma razão – uma parte disso fez enorme sentido para mim. Não posso ignorar.
Nosso universo não é apenas cognitivo, temos outras instâncias de percepção da verdade. As informações chegam por todos os caminhos, até pelo DNA, conscientes ou inconscientes, vindas desta ou de outras dimensões, e até viajando através do tempo. Sabemos pouco.
No momento, vou (pelo menos) manter a questão em meu radar, para ver se alguma coisa a mais se apresenta. Quando nos tornamos conscientes de algo, outras informações concernentes acabam se associando. Vamos esperar, para ver o que surge...
Enquanto isso, seguimos cuidando dos nossos bebês e daqueles que aparecem no caminho (de passagem, aqui e ali) - cães, gatos, passarinhos, lagartos, saruês e até morcegos... Recebemos todo tipo de hóspedes, sem preconceitos! (risos). Eles participam de nossas vidas e nós das suas, falam conosco (literalmente), temos longas e curtas conversas diárias (mas é melhor que meu psiquiatra não saiba disso).
Nós, hoje, temos dez filhos bichológicos (oito cães e dois gatos), todos resgatados. Sempre que um deles parte, alguém diz que "virou estrelinha". Eu, de fato, já os considerava assim (em vida), como estrelas que brilham em nossas Constelações Familiares, sempre nos conduzindo a situações de aprendizado e cura. Já passaram inúmeros por nossas vidas e todas as despedidas foram doloridas e difíceis. Costumo dizer que, maior que a dor da partida só o amor que nos alimenta durante todos os anos de convivência. Então, sim, continuaremos tendo animais até o fim, sem arrependimentos.
Um dos hóspedes mais recentes, que (depois dos cuidados recebidos)
voou, do telhado para o mundo!
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