Fogo é fogo mesmo!
- Cláudia Goulart Alves de Mello
- 22 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de jan.
Seca prolongada, baixa umidade do ar, incêndios, centenas de animais carbonizados, mata nativa destruída. Todo ano é a mesma história. O fogo vem das queimadas, do lixo incinerado, pontas de cigarro, fogueiras e balões: vem de muita ignorância, mas também de atos criminosos. Vem do ser humano, que também tem “esquentado” o planeta e piorado as estiagens. Todo ano tem sido pior que o anterior!
O que podemos fazer? Conscientizar, educar, informar, fiscalizar, multar, punir, coibir, mas – ainda assim – o desastre é “crônica de uma morte anunciada”, já está escrito.
Ontem à tarde, estávamos em casa (moramos no meio do mato, do ladinho do parque do Tororó), quando ouvimos um barulho grande, estalos, pancadas, pequenas explosões. O terreno em frente estava em chamas, um espaço vazio entre nós e outros dois condomínios. Fomos ver o que estava acontecendo e um vizinho nos informou que os bombeiros estavam a caminho e que os brigadistas do condomínio ao lado já combatiam o fogo.
Em segundos, as chamas avançaram e encostaram no muro do nosso condomínio, em frente à nossa casa. Eram chamas enormes, que se encaminhavam perigosamente para onde havia um poste de luz e um transformador. Os brigadistas começavam a ganhar a briga e, logo em seguida, as chamas subiam outra vez. E essa luta se repetiu por mais de uma hora, brigadistas e água contra aquela explosão de energia fascinante. Um lagarto enorme entrou por baixo do nosso portão, fugindo das chamas.
Livraram o transformador, o vento virou e passou a soprar rumo ao parque do Tororó, bastava atravessar a rua. Pelo tamanho das chamas, a pista estreita poderia não funcionar como aceiro e deixar o fogo passar... Ficamos todos apreensivos.
Os bombeiros chegaram e o incêndio já estava praticamente controlado pelos brigadistas. Tudo no terreno foi queimado, incluindo um galpão. Duas ou três casas vizinhas também tiveram seus muros chamuscados.
Com certeza, morreram pequenos animais e quase todas as plantas, mas o “cerrado-raiz”, com suas cascas de cortiça, vai sobreviver.
Tirei umas fotos, de dentro de casa, porque a fumaça era muita. No blindex do muro, eu coloquei um adesivo bird-friendly, para evitar que passarinhos batessem no vidro, por isso as imagens não ficaram nítidas, mas dá para ver a altura e o bailado das chamas.
A terra tem quase a idade do Sol, cerca de 4,5 bilhões de anos. A vida surgiu há uns 3 bilhões e o Homo Sapiens, há cerca de 250 ou 300 mil anos. Já o Homo Sapiens Sapiens (que somos nós) surgiu no final da última Era glacial, somente há 35 mil anos. Saímos do Haloceno e estamos na primeira Era geológica determinada por uma espécie (a nossa), que é o Antropoceno. Já não existe lugar no planeta que não sofra o impacto do ser humano.
Evoluímos, progredimos, mas agora precisamos aprender a nos sustentar no tempo – o que significa ter sustentabilidade! Não podemos continuar avançando, de qualquer modo, sobre tudo e sobre todos.
Vai ser difícil, ou quase impossível, sobrevivermos a essa destruição que estamos provocando – poluição do ar, contaminação das águas, exploração feroz de recursos finitos etc. etc. etc. Vamos nos lascar! Mas o planeta vai se recuperar, reequilibrar e seguir sem o ser humano.
A natureza é muito poderosa, nós não. Vendo aquelas chamas, entendi que, se elas viessem em nossa direção, nada poderíamos fazer. Talvez, colocar cães e gatos no carro e correr, se desse tempo, tudo foi muito rápido.
É fogo, é luz, eu respeito, mas amanhã vou sair para recarregar os extintores de incêndio que estão guardados na garagem, só para deixar as esperanças em dia!
Depois de tudo, fomos caminhar no parque. O incêndio, danificou o motor do portão eletrônico, tivemos que abrir no manual.
Que bom o fogo não ter chegado lá, o Tororó estava no mesmo lugar! A luz do entardecer coloriu e brincou com as sombras das folhas, dos pássaros, do céu. E nós prosseguimos, respirando, buscando paz a cada passo, dando um passo de cada vez (como é de praxe).




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